domingo, 14 de junho de 2009

As mesas girantes

É necessário dizer-se que o fenômeno tomou, em seguida, outro aspecto. As pancadas, em vez de se produzirem sobre as paredes e sobre o assoalho, faziam-se ouvir na mesa, em torno da qual estavam reunidos os experimentadores. Este modo de proceder fora indicado pelos próprios Espíritos.
O primeiro fato observado foi o da movimentação de objeto diversos. Designaram-no vulgarmente pelo nome de mesas girantes ou danças das mesas. Este fenômeno, que paree ter sido notado primeiramente na América [...], se produziu rodeado de circunstâncias estranhas, tais como ruídos insólitos, pancadas sem nenhuma causa ostensiva. Em seguida, propagou-se rapidamente pela Europa e pelas outras partes do mundo.
As primeiras manifestações inteligentes se produziram por meio de mesas que se levantavam e, com um dos pés, davam certo número de pancadas, respondendo desse modo - sim, ou - não, conforme fora convencionado, a uma pergunta feita. Até aí nada de convincente havia para os cépticos, porquanto bem podiam crer que tudo fosse obra do acaso. Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas com o auxílio das letras do alfabeto: dando o móvel um número de pancadas correspondente ao número de ordem de cada letra, chegava-se a formar palavras e frases que respondiam às questões propostas. A precisão das respostas e a correlação que denotavam com as perguntas causaram espanto. O ser misterioso que assim respondia, interrogado sobre a sua natureza, declarou que era Espírito ou Gênio, declinou um nome e prestou diversas informações a seu respeito. Há aqui uma circunstância muito importante, que se deve assinalar. É que minguém imaginou os Espíritos como meio de explicar o fenômeno; foi o próprio fenômeno que revelou a palavra.
Vale enfatizar que, a propósito dessas manifestações novas na América, muitos intelectuais, como o juíz John W. Edmonds, o professor James J. Mapes, o célebre professor Roberto Hare, o sábio Robert Dale Owen, dentre outros, aproximaram-se das novas idéias com o objetivo de esclarecer as pessoas quanto à ilusão em que estavam imersas. Mas, em vez disso, eles, os sábios, recuando honestamente em seus propósitos, declararam a veracidade dos fatos, aumentando ainda mais o interesse pelas manifestações mediúnicas, portadoras de mensagens vindas do mundo espiritual.
A notícia dos fenômenos misteriosos que se produziam na América suscitou na França viva curiosidades e, em pouco tempo, a experiência das mesas girantes atingiu grau extraordinário. Nos salões, a moda era interrogá-las sobre as mais fúteis questões. Era um passatempo de nova espécie e que fez furor.
Em 1853, a Europa inteira tinha as atenções gerais convergidas para o fenômeno das chamadas mesas girantes e dançantes, considerado o maior acontecimento do século pelo Rev.° Padre Ventura de Raulica, então o mais ilustre representante da teologia e da filosofia católicas.
A imprensa informava e tecia largos comentários acerca das estranhas manifestações, e, a não ser o grande físico inglês Faraday, o sábio químico Chevreul, o conde de Gasparin, o marquês de Mirville, o abade Moigno, Arago, Babinet e alguns outros eminentes homens de ciência, bem poucos se importavam em descobrir-lhes as causas, em explicá-las, a maioria dos acadêmicos olhando os fenômenos com superioridade e desdém.
Voltando aos dias da tumultuosa França de meados de 1853, vemos que grupos e mais grupos de experimentadores curiosos se haviam organizado num fechar de olhos. A maravilhosa loucura do século XIX já se havia infiltrado no cérebro da Humanidade [...]. E Paris inteira assistia, atônita e estarrecida, a este turbilhão feérico de fenômenos imprevistos que, para a maioria, só alucinadas imaginações poderiam criar, mas que a realidade impunha aos mais cépticos e frívolos.
A Imprensa francesa, diante da demonstração irrefragável dos novos fatos [ manifestações de Espíritos ], que saltavam aos olhos de todos, franqueou mais amplamente suas colunas ao noticiário a respeito, dessa forma ateando mais fogo nos debates e controvérsias que então se levantaram entre os observadores menos superficiais.
Mas as mesas continuaram... Veio o Santo Ofício e, em 4 de agosto de 1856, condenou os fenômenos em voga, dizendo serem consequência de hipnotismo e magnetismo ( já que pouca gente acreditava em peripécias do diabo ), e tachava de hereges as pessoas por intermédio das quais eles eram produzidos.
Estava, assim, cumprido o papel dos fenômenos dessa fase inicial - invasão organizada, no dizer do escritor inglês Arthur Conan Doyle -, programada pelos Espíritos Superiores, com vistas à chegada de uma nova era de progresso para os homens.

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